Manter os alimentos perecíveis como frutas e verduras fora da geladeira é uma tarefa quase impossível de se fazer, principalmente no semi-árido nordestino, onde a degradação dos alimentos ocorre de maneira rápida, devido ao clima seco característico da região. Pensando em aumentar o tempo de conservação desses alimentos, a pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e coordenadora do curso de Gastronomia e Segurança Alimentar, Neide Shinohara, realizou estudo com método de preservação das características físicas e nutritivas de alimentos usando um sistema conhecido como pot-in-pot ou geladeira de cerâmica (GC).
O princípio de fácil aplicabilidade já é conhecido. Ele se tornou possível na Nigéria, através da criatividade de Mohammed Bah Abba, criador e divulgador do método, que além de não depender de eletricidade é facilmente fabricável e de muito baixo custo. Para o funcionamento, a técnica usa um vaso menor dentro de um outro de maior tamanho, sendo o espaço entre os dois preenchido com areia umedecida com água potável. Os alimentos são guardados no vaso menor e cobertos com pano limpo e umedecido com água, para retardar a evaporação. Neide Shinohara explica que os potes não podem ser pintados. “A água presente na areia quando evapora expulsa o calor baixando a temperatura do interior do vaso. Esse sistema é semelhante ao que ocorre na moringa ou, até mesmo, a quando saímos da piscina – após sair da água, temos a sensação de frio por causa do processo de evaporação da água junto à pele, que para mudar de estado rouba o calor do nosso corpo”, afirma a professora.
As semelhanças climáticas entre a Nigéria e o semi-árido nordestino motivaram a pesquisadora a estudar a geladeira de cerâmica e a reação do experimento em laboratório dentro das condições propostas – temperaturas altas e baixa umidade, típico de clima seco. “Essa pesquisa faz parte de um projeto de extensão da universidade, motivado pelos estudos da composição comportamento dos potes de barro para armazenar alimentos realizado pelo professor e engenheiro mecânico Armando Shinohara. O estímulo serviu para avaliar o tempo de conservação de alimentos como tomate, acerola, goiaba e maçã. Todos conseguiram resultados positivos, diferentes da vida de prateleira”, diz Neide.
Outro ponto em comum entre os dois lugares é a falta de eletricidade, que implica em problemas de abastecimento e de saúde para a população. “O ideal seria passar o uso da geladeira de cerâmica para as comunidades da zona rural, já que muitas delas não têm acesso à eletricidade e não dispõem de outro meio para armazenar alimentos perecíveis. Mas, não é só jogar a geladeira de cerâmica nas mãos da população. Tem que fazer o monitoramento dos produtos e acompanhar a forma de acomodação deles pela população, afirma a pesquisadora.
A professora ainda alerta para a facilidade de implantação da técnica e garante que a população seria beneficiada com a ação. “Esse método só depende da natureza, da boa vontade de implantar e orientação da equipe participante do projeto”, afirma.
Sofrência
Há 9 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário